28 de agosto de 2011

ACOLHER, COMO?

                                           
                                              Vinde a mim, todos os que estais cansados e oprimidos, e eu vos aliviarei.
                                                                                                                                                Mateus 11 : 28.

A premissa para o Acolhimento é o Amor - princípio universal e imutável, por excelência. A regência do Amor, no entanto, é algo que ultrapassa a mera intenção de ajudar, resgatar ou de exercer a prática efetiva do acolher o Outro em sua amplitude máxima. Prática que deve ser pautada em ações de caráter contínuo; e protegidas, dessa forma, contra qualquer sinal de interrupção no decurso de sua atividade. Assim, a coerência entre a regra, que institui e torna possível o Acolhimento e a ação deste último, propriamente dito, são, em módulo consonante, os índices determinativos de uma tarefa que logrará êxito se o Outro a ser acolhido for plenamente alcançado em etapa final.

Ora, se o Acolhimento é lei promulgada para viabilizar, de forma concreta, o exercício para amar incondicionalmente o Outro, o próximo; e, neste caso, o pobre, o aflito e o necessitado, que vivem anonimamente nos subterrâneos da vida, o Amor, em sua flexão diária, deve, pari passu, ser o reflexo fidedigno do princípio fundamental. O contrário disso revela um apego superficial ao mandamento crístico, que é amar o próximo como a si mesmo, e, por conseguinte, invalida todas as ações que são calcadas, inconsistentemente, em posturas levianas, dúbias e hipócritas.

Para acolher, portanto, é necessário amar; mas para amar é necessário compreender. A compreensão, afirmativamente, constitui-se no itinerário fundamental e único para a construção do Acolhimento em sua esfera de crescimento venturoso e constante. Há que se pontuar, inexoravelmente, que não  há meio acolhimento ou acolhimentos que recrudescem às leis furtivas ou às intempéries advindas de modismos ou algo parecido. O Acolhimento é um fenômeno dadivoso, espontâneo, e que nasce nos corações daqueles que amam o Outro, independentemente de sua condição no mundo, seja econômica, étnica e / ou cultural. Este é o Acolhimento que rompe barreiras e finca a verdadeira bandeira do Amor em um mundo que, para aqueles que exercem a prática coerente do Amar, não existe a palavra pátria. Neste sentido, o vocábulo cidadania redimensiona o sentido do fazer o bem ao próximo e atinge o estatuto de princípio universal. 

Como pensar, então, no Acolhimento, se há limites impostos por valores terrenos e ideologicamente questionáveis nos grupos sociais? As pessoas que preferem trilhar esse caminho, com efeito, estão na contramão da história porque os efeitos da globalização, apesar de todos os percalços oriundos daquela, promovem bons augúrios, e, neste sentido, o Acolhimento preconizado pelas pessoas de boa vontade só tem e terá a sua razão de ser, na atualidade e nos tempos vindouros, se a ação efetiva do Acolher atingir este patamar globalizado.

E a compreensão é o estágio natural que se desenvolve a partir da consciência individual de cada um. Quanto maior for a consciência acerca daqueles que necessitam ser acolhidos, em todos os sentidos, maior será a compreensão referida nesta explanação. Cumpre ressaltar, portanto, que é pernicioso pregar o Amor, se este nobre sentimento não advir da compreensão e da consciência dos homens e mulheres, verdadeiramente engajados na prática do Bem. Daí o predicativo do amor em sua modulação exponencial: o de ser incondicional; desde o seu fundamento à sua ação inequívoca, que é a de transformar vidas permanentemente. 

Compreensão e consciência, de mãos dadas e balizando forças, formam o prumo ideal de uma balança, que será revestida pelo bom senso. E bom senso é pérola nas mãos daqueles que buscam incansavelmente a sabedoria. Sabedoria que não provém de livros, mas que vem da vida; entre vales e campos floridos, desertos e caminhos verdejantes, onde as palavras de ordem são a fé, a visão e a perseverança. Sementes para plantações sadias e de colheitas certas e abastadas. Os frutos dessas sementes são os resultados equânimes de atitudes torneadas pela retidão e pela preservação inquestionável dos valores que tornam o ser humano o veradeiro reflexo da face de Deus na terra.

O conjunto harmonioso, que reúne em tomo singular a compreensão, a consciência, o bom senso e  a sabedoria, é, em percepção medial, a consolidação dos componentes necessários e indispensáveis para que o empreendimento universal denominado Acolhimento alcance o objetivo final, que é o de abraçar o Outro da maneira como ele estiver e de onde ele vier, sem preconceitos, sem discriminação; totalmente livre das amarras que criam segmentos, submundos e subespécies de pessoas como se o paraíso celestial fosse dividido em classes, subclasses, ou em partes distintas para seres privilegiados e para almas desamparadas.

O amor incondicional emergirá deste encadeamento perfeito, onde a beleza estará no reconhecimento da presença inconteste do espírito santificado que dos altos céus é derramado pelo Altíssimo em fontes constantes e inesgotáveis. Beleza rara, que eleva os homens e as mulheres de boa vontade a um patamar único de sensibilidade para facear o abandonado, o carente e o necessitado; e poder se verem no olhar miguado de cada um como se estivessem todos diante do espelho de suas casas.  Neste encontro haverá não só reunião de todos estes elementos essenciais para a prática do acolhimento, mas, principalmente, a vigência do AMAR, que não se concretizará apenas no estender a mão àqueles que estão em vias de perdição, seja física, seja espiritual, mas no câmbio entre aquele que decide amar e aquele que decide ser amado; aquele que decide acolher e aquele que decide ser acolhido. Uma vez sendo amado o Outro, o amor retorna para o seu porto originário: para aquele que ama; uma vez sendo acolhido, o desesperado, o seu desespero também trilha o caminho de volta, pois o desespero também faz parte da vida dos que se sentem vocacionados para a ajuda ao próximo, pois todos são e estão desamparados; todos são e estão carentes da misericórdia de Deus.

O Acolhimento não é uma onda que navega em mares plácidos e moderados nem tampouco concede a suave brisa do amanhecer, com direito a poentes resplandescentes àqueles que pensam que a prática do Acolhimento é honraria sem esforço. O Acolhimento, antes, exige a renúncia. A renúncia de si em detrimento do Outro; das bocas famintas, dos corpos que sentem frios, das lágrimas que precisam ser enxutas e dos corações que necessitam de uma palavra de carinho, de ternura e de fé.

O Amor, com efeito, é a chama que dá força à prática do Acolhimento, mas, para além das virtudes, que todos devem cultivar em suas vidas diárias, deverá haver, de forma cabal, o esvaziamento de si para que o corpo seja casa que acolhe, seja templo que se doa, seja abrigo que recolhe, e seja, finalmente, pão que mata a fome e água que mata a sede de quem está sob os trilhos da miséria.

Vós estais preparados para Acolher? 

10 de julho de 2011

ACOLHER O OUTRO, POR QUÊ?





                                         Porque tive fome, e destes-me de comer; tive sede, e destes-me de
                                                      beber; era estrangeiro e hospedastes-me;
                                                      Estava nu, e vestistes-me; adoeci, e visitastes-me; estive na prisão, 
                                                      e fostes ver-me. 
                                                                                                                                    Mateus 25 : 35-36.


Pensar na prática redentora do Bem como algo inerente à natureza humana, e que, paulatinamente, tem se tornado algo obsoleto nos dias atuais, constitui-se, para a preocupação de muitas pessoas de boa vontade, um paradoxo sem precedentes em um mundo, cujas fronteiras foram dizimadas em nome de um projeto geopolítico e geoeconômico denominado globalização. Realidades conflitantes, cujas forças antagônicas fraturam, sobremaneira, a compreensão de grupos de pessoas que buscam, incansavelmente, através do altruísmo verdadeiro, a construção de um mundo melhor; de uma sociedade igualitária, na qual os excluídos se sentam à mesa para terem, definitivamente, acesso ao alimento necessário à manutenção da vida; a todos nutrientes, sejam físicos, sejam espirituais, e que definem um ser na esfera da Humanidade;  populações, gentes, pessoas e indíviduos sem qualquer tipo de acepção e / ou preconceitos; sem utopias ou ilusões; sumariamente recebidos com respeito e com a dignidade que merecem. 
A civilização, demasiadamente midiática, na aurora do terceiro milênio, caminha na contramão da própria História, ao impedir, de todas as formas, aqueles, que são marginalizados sistematicamente, devido à pobreza, à miséria e ao abandono total da sociedade, de gozarem do direito pleno à cidadania em todos os seus aspectos. Se, por um lado, o mundo teve suas distâncias encurtadas, e, portanto, teoricamente, as diferenças econômicas e sociais entre povos e nações poderiam ser reduzidas em prol das populações carentes, por outro lado, o que se atesta é o contrário, pois a detenção de informação, cada vez mais concentrada nas mãos de pequenos grupos, tem gerado megapoderes, e que, em última análise, aumentou brutalmente o fosso que divisa pobres de ricos no planeta. O império do Ter não só consolidou suas bases em uma sociedade capitalista e neoliberal como também tem esmagado a pátria do Ser, cujos representantes são os emblemáticos homens e mulheres de boa vontade - padrão de conduta moral e de enlevo espiritual -. mas que não têm acolhida nas sociedades informacionais do século XXI.
O acolhimento do Outro, como atitude que nasce da sensatez de pessoas valorosas, deixara de ser uma prática baseada nos princípios universais do amor incondicional, da compaixão, e da comunhão profunda para se transformar no exercício do grande apelo às almas dadivosas a fim de que aquela ação não se esgote, ou seja esquecida, para sempre, na memória dos homens ditos pós-cibernéticos ou representantes da era digital, em que a tela fria dos personal computer rouba a cena nos tempos hodiernos, aprisiona milhares de mentes em mundos virtuais e desvia, de forma dantesca, o Homem de sua verdadeira essência: a de amar o próximo, praticando o bem, inconteste e incessantemente.
O acolhimento do Outro tem perdido espaços nas culturas modernas na proporção estrutural do Ter, que impõe o câmbio, os interesses e a conveniência como moedas principais para que as pessoas e o mundo, simultaneamente, com seus valores corrompidos existam, ainda que este cenário seja o mais bizarro na trajetória do Homem, nos anais da História. O Ser, por sua vez, em descrédito, se transforma na cédula desvalorizada, e que só tem valor nas mãos das pessoas de bem querer, que acreditam em um mundo mais justo e mais igualitário. Eis, portanto, a balança, com pesos, medidas e valores desiguais. O material se sobrepõe ao espiritual, e o imediatismo, filho dileto das paixões consumidoras e egoístas, entorpece as almas e as vicia em círculos pouco oxigenados. Assim, não há lugar para pregar o amor genuíno, que é fundamentado na prática do doar-se em detrimento de outrem sem esperar qualquer tipo de recebimento ou troca; antes, as lacunas estão preenchidas pelo individualismo, pelo excesso do eu e pelos discursos narcisistas. 
Apelar é chamar; é clamar; é perseverar na voz que é escutada, todos os dias, pela consciência de cada um. Desse modo, o apelo às pessoas para que o Bem seja um ato diário, constante e natural, na vida de todos os seres humanos, é o próprio ato de acolhimento que pode (deve) ser feito sem ser percebido, porque acolher o Outro, certamente, não causa dor em ninguém. Apelar se faz necessário para que o Ser sobreviva; e em sobrevivendo o Ser, sobrevive o Homem, já que o planeta cambaleia por causa de suas dores físicas e espirituais. Insistir na escuta inconfundível da voz da consciência é impedir o seu perecimento, e permitir, no amortecimento das verdadeiras ações do bem maior, o nascimento dos sentimentos torpes, e que afastam as criaturas da essência do Criador, que se consubstancia no amor sem fronteiras; a expressão máxima da Graça, que liberta, protege, redime e salva.
O Ter morre, mas o Ser é eterno. Entre a decadência dos valores humanos e o sonho, com pátrias e bandeiras de todas as cores, nas quais os alimentos chegam às bocas dos carentes, dos famintos e dos necessitados, há uma esperança: a de saber que a causa do acolhimento do Outro é a preservação da existência de quem acolhe. A fatura a ser liquidada não é a entrada gratuita no paraíso, mas a certeza de que o céu aparece diante dos olhos das pessoas que praticam o Bem e daquelas que insistem em viver encasteladas em seus desejos mais recônditos, omitindo-se, covardemente, para serem cúmplices da sombra da morte, que arrasta milhões de miseráveis para covas sem nomes. 
O Bem tem de ser praticado na vida diária enquanto o fôlego entra e sai das narinas do Homem; o clamor e o chamado para a prática do bem só têm razão de ser porque existem pessoas que podem(devem) fazer a diferença, pois haverá um dia em que o acolhimento não mais existirá porque Deus, em sua infinita misericórdia e bondade, deixará de acolher a todas as criaturas, indistintamente. O Mal não triunfará sobre o Bem, mas o juízo, sim, este será a medida de todas as coisas, de todas as pessoas: para aqueles que acolhem e para aqueles que são acolhidos. Quanto aos outros, resta-lhes, ainda, o apelo. É tempo de apelar; é tempo de chamar; é tempo de Acolher! 

6 de maio de 2011

DECLARAÇÃO DO AMOR MAIOR



Eu amo aqueles olhos que perderam as lágrimas porque a dor secou até a esperança de suas retinas;

sim, eu amo a voz daqueles que foram silenciados pela fome e pelo cansaço de ouvir não dos insensatos!

Eu amo as mãos sôfregas daqueles e daquelas que, estendidas, clamam por um pedaço de pão ou uma palavra de afeto...

Sim, é verdade, eu amo os corpos desnudos das pessoas que tremem em invernos longos e ardem em verões infernais sem terem feito mal a ninguém!

Eu amo aqueles e aquelas que não têm nome, não têm casa, não têm pai, não têm mãe, não têm irmãos, mas que podem ter amigos e irmãos espirituais, que têm nome, que têm compaixão, e, acima de tudo, amor próprio para lhes estender a mão...

Eu amo os que andam descalços, os que dormem ao relento e os que não têm pátria, 
porque em cada um deles há um pedaço de mim:
esta carne doída e sangrada que clama a vida de um homem que jamais morreu!

Sim, eu amo a todos os aflitos, perdidos, famintos, sedentos e necessitados, 
porque neles eu encontro um JESUS, que, crucificado, ressuscitou para nos ensinar a AMAR O PRÓXIMO incondicionalmente! 

Para ACOLHER, é necessário AMAR; para amar, é necessário MORRER; para morrer, é necessário RENUNCIAR; para renunciar, é necessário HUMILHAR-SE; para humilhar-se, é necessário RENASCER!


Eu amo a todos os que leram esta DECLARAÇÃO DE AMOR, pois você, como eu, precisamos, também, ser amados, pois somos iguais a todos os carentes e desamparados, que buscam no Alto o AMOR e o ACOLHIMENTO do PAI, que jamais nos abandona...
Para que o amor seja eterno, irmãos meus, amemos!