9 de outubro de 2010

A problemática da fome no mundo

          
         O reconhecimento irrefutável de que, no limiar do Terceiro Milênio, haja no planeta azul, chamado Terra, mais de 1 bilhão de pessoas, atingidas pela fome, e espalhadas nos cinco continentes, segundo dados oficiais, atualizados e publicados pela FAO (Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação) é, indubitavelmente, uma realidade aterrorizante, se considerarmos os números que crescem, de forma alarmante, de um lado, associado à escassez de alimentos, que assombra as populações, do outro lado. 
                Nesta diretriz, é imperioso salientar que tais indicadores não se constituem em motivo de regozijo ou deleite; nem para quem trabalha no sentido de reduzir a cifra bilionária dos famintos nem tampouco para essas pessoas, que, a cada segundo, sucumbem, diante da miséria de toda ordem, aumentando o número de covas, e tornando, por conseguinte, a mendicância em uma realidade longe de ser superada em tempos atuais.
                   É salutar a existência de diversas iniciativas, espalhadas pelo mundo, de milhões de ações coordenadas, sejam individuais e/ou coletivas, emanadas dos movimentos civis ou de fontes governamentais que atuam, com alguma eficácia, nos campos sociais e econômicos, respectivamente. Neste caso, além dos organismos institucionais, circunscritos às esferas públicas (órgãos federais, estaduais e municipais), no Brasil, há um número considerável de ONGS (organizações não – governamentais), que surgiram, no lastro da modernização do estado novo, para atuar em várias áreas, antes jamais enfrentadas, adequadamente, pelos planos de governos anteriores à chamada Era FHC, devido à inexistência completa de políticas públicas para diversos segmentos da sociedade civil, como é o caso da Fome no país e pela falta de sensibilidade das autoridades, de uma forma geral, que não percebiam o enorme fosso que fora criado, há muitos anos, entre um Brasil que se moderniza a passos largos e um Brasil que rasteja sobre suas próprias mazelas: é o Brasil dos pedintes, das esmolas, das doenças, da fome, da pobreza e da miséria completa, que não atinge somente as ruas, mas os lares também.
                 A despeito, ainda, das diversas iniciativas, em franco crescimento, para a fortuna daqueles, que são privados de qualquer tipo de assistência, e têm a fome como um estigma, quase que imbatível, instituições religiosas, representantes de várias denominações, com práticas de fé e credo, distintos, entre si, atuam em uma terceira via, estabelecendo um contraponto à realidade avassaladora, que avança, na urgência das tecnologias midiáticas, na primeira década do século 21.
                   Desse modo, é muito comum os mass media estarem abarrotados com programas de ações similares, concorrendo para a tentativa de mudar o quadro melancólico, que, para o desconforto dos homens de boa vontade, não diminui; antes, ao contrário, aumenta, dia após dia, perante os olhos de outros milhões de pessoas que envidam todos os esforços possíveis para evitar que o caos maior seja irreversível. 
                  A análise, aparentemente catastrófica e nebulosa, é real, pois é baseada em dados de uma realidade que desmantela estruturas, calcadas no princípio do amor ao próximo - este fundamento universal, que está preconizado nas Escrituras Sagradas, e que se constitui na força motriz de todos os projetos sociais, que privilegiam o outro em estado de total abandono, sofrendo todos os males advindos da pobreza, da penúria; sendo vítimas contumazes de doenças, da fome e da terrível constatação, que é a de não terem um lar para morarem com o mínimo de dignidade a que têm direito. Os outros, que são anônimos para as estatísticas, e que, por conseguinte, são elementos inexistentes para aferirem o quantum econômico de uma nação ou para sustentarem o PIB interno de um país; os outros, que formam uma legião de desesperados, destituídos da possibilidade de sonhar, e, portanto, privados do direito à vida; sendo tragados pela força suprema da morte, aumentando, abruptamente, o número devastador de óbitos no mundo inteiro devido à falta completa de alimentos e da má distribuição de renda num planeta, em que os ricos estão cada vez mais ricos e os pobres cada vez mais pobres.
                    O horizonte que se apresenta no início do novo século é paradoxalmente sombrio e uma intimação ao genuíno Homo humanus para o desafio que se posta cristalino, de dimensões terríficas, em tempos marcados pelas tecnologias informacionais: enfrentar a fome e suas personagens principais – os famintos, os sedentos, os necessitados e os cativos, aonde quer que estejam, da maneira como estão, no estado como são encontrados; i.e., destituídos de qualquer instrumento que lhes garanta a sobrevivência, e carentes com as mãos estendidas, clamando por ajuda. Esta é a realidade sem maquiagens ou contornos estilizados. A fome não escolhe casa, rua ou esquina; a fome não escolhe bairro, estrada ou município; a fome não escolhe rodovia, estado ou país; a fome não escolhe continente; a fome não escolhe raças ou etnias; a fome não escolhe cor da pele ou textura de cabelos; a fome, definitivamente, não escolhe endereço. A fome não reconhece fronteiras nem soberanias. Ela invade, se espalha e finca suas garras pestilentas em todos os lugares, vitimando todos os tipos de seres humanos. A fome é ubíqua. Ela se estabelece; e ao fazê-lo, a fome, em sua forma letal, se perpetua, arrastando um número crescente de vítimas para um caminho sem fim. Pessoas que, sem identidade, perdem todos os seus direitos, pois a elas é vedado o exercício de algo valioso para o ser humano: o direito à cidadania.

                                                   Prof. Dr. João Carlos de Souza Ribeiro

Aline Barros Leva-me aos sedentos

ACOLHENDO A PALAVRA DE DEUS


Porventura não chorei sobre aquele que estava aflito, ou não se angustiou a minha alma pelo necessitado?
                                                                                              Jó 30 : 25